sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Rede de Mentiras (Body of Lies, E.U.A, 2008)

Direção: Riddley Scott
Estúdio: Warner Bros.
Roteiro: Willian Monahan
Produção: Riddley Scott, Donald De Line
Elenco: Leonardo DiCaprio, Russel Crowe, Mark Strong, Michael Gaston, Oscar Isaac, Vince Colosimo, Carice Van Houten, Golshifteh Farahani, Larry Carter, Ben Youcef

Bom filme, apesar de ser um filme totalmente `Hollywoodiano` o diretor Riddley Scott ousou um pouco ao mostrar (à sua maneira, fique bem claro) os dois lados da hedionda `guerra ao terror`.
Baseado no livro `Body of Lies` de David Ignatius , lançado em 2007 ( o filme foi feito à toque de caixa, nunca vi a adaptação de um livro ser filmada tão rápido assim! Geralmente o processo leva anos...), `Rede de Mentiras` mostra a vida do ex- jornalista Roger Ferris, que entra para a C.I.A e passa a trabalhar como agente de campo no Oriente Médio, se envolvendo em espionagem pesada, constantemente correndo risco de vida, e inevitavelmente tendo sua humanidade embrutecida dia após dia.
Após uma `bem sucedida` missão no Iraque, Ferris é mandando para a Jordânia, para investigar de perto uma célula da Al Qaeda, e é a partir daí que o filme engata.
O filme mostra os dois lados da moeda, como ele é norte-americano logicamente os árabes são demonizados, mas Scott soube conduzir o filme e mostrar aos espectadores as táticas políticas imundas que os dois lados do conflito utilizam, usando vidas humanas como peões em um tabuleiro de xadrez.
Hoffman, o `chefe` de Ferris, brilhantemente interpretado por Russel Crowe, é exatamente o tipo de canalha que eu acho que comanda essas operações no Oriente Médio.
Frio, desprovido de qualquer tipo de empatia por outro ser humano que não for da mesma `tribo` a que ele faz parte, Hoffman é simplesmente desprezível, dá vontade de, se fosse possível, entrar na tela e quebrar ele na porrada!
O que é uma prova incontestável do magnífico trabalho de interpretação de Crowe.
O personagem principal do lado árabe é o refinado Hani (soberbamente interpretado por Mark Strong), ministro de segurança da Jordânia, astuto como uma raposa, mestre da tática da `cortina de fumaça`.
Em meio a esses dois `mestres` dos jogos de guerra, Ferris (Di Caprio) é manipulado pelos dois lados e come o pão que o diabo amassou, chegando à inevitável ressaca moral por causa de suas ações.
O roteiro, bem feito, é cheio de reviravoltas, que são um pouco previsíveis, mas mesmo assim funcionam bem.
O romance entre Ferris e a iraniana Aisha poderia ter sido melhor construído e mais profundamente explorado, do que jeito que ele ficou parece que só foi colocado no filme por uma razão pra lá de óbvia.
Uma `estratégia` planejada por Ferris para fazer um grupo terrorista `sair da toca` é uma amostra de como as coisas realmente funcionam no pavoroso cenário que não é mostrado nas coberturas jornalísticas das guerras em andamento no Oriente Médio.
Quem se interessa por teorias conspiratórias vai ter muito em que pensar após ver a `estratégia` elaborada por Ferris.
A caracterização dos países árabes (todas as cenas passadas no Oriente Médio foram filmadas em Marrocos) ficou ótima, realmente passa o clima que nós imediatamente relacionamos a países como o Iraque, Jordânia, Síria, etc....
É perturbador ver em diversos filmes recentes o grau de sofisticação que os equipamentos de vigilância das potências ocidentais estão atingindo, tudo que é mostrado no filme realmente existe e está sendo usado nos conflitos no Oriente Médio.
Quase no final do filme comecei a desconfiar que iria rolar um final bem imbecil, uma `patriotada` daquelas, que felizmente não aconteceu, o que permitiu que o fime tivesse um final realista, e de certa forma, `não Hollywoodiano`
Detalhe macabro: Provando de uma vez por todas que filmes sobre a situação no Oriente Médio realmente perturbam os dois lados, o governo iraniano proibiu a atriz Golshifteh Farahani, que interpreta Aisha, de deixar o país por causa de ela ter participado de `Rede de Mentiras`.
Atores e atrizes iranianos precisam de uma autorização do Ministério da Cultura do Irã para participar de filmes estrangeiros, Farahani não solicitou essa autorização, talvez por ter certeza de que ela não seria concedida.
Farahani foi a 1º atriz iraniana a participar de uma produção de Holywood.
Como dá para se ver por essa resenha, esse filme levanta questões bem complexas e atuais, não é um filme para qualquer um, com certeza ele não ficará muito tempo em cartaz, apesar do Leonardo DiCaprio.
Aliás, é até engraçado imaginar uma `patricinha` indo ao cinema assitir `Rede de Mentiras` por causa dele e acabar vendo um filme desses, guardadas as devidas proporções, seria um `choque de realidade`.
Veja no cinema, se não der, não se preocupe, faço questão de postar esse filme aqui no blog.
Em breve.



FARAHANI


TRAILER



2 comentários:

Alex disse...

Parabéns, achei sua resenha muito boa, realmente é um choque de realidade.

Diego Emanuel disse...

Exelente trabalho, gostei muito desta resenha, me ajudou bastante a esclarecer algumas dúvidas.