sábado, 8 de setembro de 2012

Livre? – Entrevista e Download da demo `O Mundo Está Perdido Mas Sua Vida Não Está` (2012)

Fala Gilcélio! Mano, há muito tempo eu não via o nome de uma banda se encaixar tão bem com a proposta lírica e sonora, parabéns! Como chegaram a esse nome? O que querem expressar com ele?
Valeu Natal, então, esse nome foi idéia do Victor que é o guitarrista, depois de ficarmos um bom tempo pra decidir qual  nome colocar na banda e tal, vários nomes vieram mas nenhum se encaixou como deveria ou agradou a todos, aí surgiu a idéia do Livre?. Que não é usado somente como nome da banda, mas sim como uma pergunta que devemos fazer para nós mesmos, se somos realmente livres vivendo nessa sociedade que vive um padrão estabelecido, como trabalhar e estudar para ter que sobreviver e todas as outras coisas impostas e até onde somos capazes de lutar pela tal liberdade de escolher o que queremos ser, como devemos viver, com quem queremos estar e etc.

Vamos agora a uma pergunta de praxe em 99,9% das entrevistas. Quando e como o Livre? Foi formado? Quem passou pela banda? Qual é a formação atual?
O Livre? Foi formado no final de 2011, eu sou de Morrinhos interior de Goiás, me mudei pra cá em julho do ano passado, dando alguns rolês pelos hardcores daqui de Goiânia conheci o Urbano num show do ExOxDx, aí começamos a trocar umas idéias sobre som e tal, e eu dei a idéia que eu estava a fim de fazer um som rápido e ele já falou que topava aí fodeu. Um tempo depois tomando um vinho com o Alysson que já é grindeiro das antigas, baixista do Dor de Ouvido e do Repúdio CxGx de Campo Grande, chamei ele pra embarcar nessa também, marcamos o dia do primeiro ensaio e o Urbano levou o Victor vocal do ExOxDx pra tocar guitarra porque ainda não tínhamos arranjado um guitarrista e ficou assim. A formação atual é a mesma desde o começo, eu Gilcélio no vocal, Victor na guitarra, o Alysson no baixo e o Urbano na bateria.

Quais são as influências musicais e literárias de vocês?
Ah cara diretamente eu nem sei dizer kkkkkk, gostamos de muitos sons, minhas influências: grindcore, crust, powerviolence, crossover, bastante anti-música. o Victor pira muito nas bandas de hardcore dos anos 80 que eu gosto muito também, como D.R,I. Dead Kennedys, Black Flag, Bad Brains, Minor Threat, o Alysson também curte muita barulheira, bastante punk rock e um monte de coisas, o Urbano tem muitas influências fodas também, aí cada um usa isso pra compor nossos sons pra sair o que sai, mas a intenção é tocar cada vez mais rápido. Já em questão de influência literária, eu como zineiro além de fazer e escrever zines, também gosto muito de ler zines de todos os gêneros e formatos, gosto de bastante livros também e tal, ler sempre me acrescenta bastante coisa positiva.

O release e as letras do Livre? apresentam um forte cunho anarquista/libertário, podem falar um pouco sobre isso?

As letras do Livre? são bastante diretas no que queremos expressar como nossa idéia, que esse sistema é sujo, corrupto, preconceituoso e opressor e que não queremos fazer parte disso, mas sim ser livres e viver em igualdade e respeito mútuo. As letras expressam protesto contra todo tipo de autoritarismo, não somente o político, religioso e militar, mas também contra o autoritarismo imposto por pessoas que convivemos no nosso dia, que adoram mandar e desmandar para encher de orgulho o seus egos e status. O anarquismo para mim é bastante individual e que o mais importante é fazer por você e pelas pessoas que você ama tudo que for possível para viver bem e feliz saca?  Sem nenhum preconceito, autoridade, intolerância e outras atitudes de merda envolvidas.
Como foi o corre para gravar a demo “O mundo está perdido mas sua vida não está?”
Ué, foi minha primeira experiência com gravação em estúdio e tal, pro resto da banda também, menos para o Alysson. Então claro que tinham que rolar uns contratempos, esqueci o baixo que eu tinha que levar, achamos que em duas horas dava pra gravar tudo, mas nem deu kkkkk, então gravamos os instrumentos em duas horas e meia, e ainda ficou uma música de fora e tivemos que pagar outra hora para gravar os vocais, gravamos com o Marcelo no Old Stúdio, foi firmeza. Achei da hora, sempre tive vontade de gravar um som e tal, imortalizar uma parada feita com outros brothers com a mesma motivação de fazer algo acontecer, foi divertido.

Como está sendo a repercussão da demo até agora?
Ué, acho que quem gosta de ouvir um som rápido, berrado, sem entender nada que está sendo dito gostou, a nossa demo já foi postada em alguns blogs pra download, mostrei pra uns brothers de fora que eu conheço de vários lugares do país que curtiram, foi legal. A galera de Goiânia também parece ter curtido pelos comentários que eu vi no Facebook e tal e pela sua postura nos shows, então acho que a repercussão está sendo boa.

Li que vocês têm planos de lançar a demo também em formato físico, alguma previsão para isso?
Ué, espero que o mais breve  possível, seremos lançados por dois selos a Two Beers daqui de Goiânia e pela Evil Mosh Crew Records de Campo Grande – MS do Enrique vocal do Dor de Ouvido, então estamos na expectativa, creio eu que até o final de setembro ela já vai estar rolando nas banquinhas dos rolês.

Além do Livre?  Você também toca no Disköntrolly Social e edita um zine com o mesmo nome, como estão esses projetos?
O Disköntrolly Social banda acabou, mas tenho planos de ressucista- lo  aqui em Goiânia, o Todd que era o guitarrista também está morando aqui, então podem esperar que um novo projeto envolvendo o Disköntrolly Social em breve vai estar rolando nos ouvidos da galera..... Já o zine, ele está de molho por enquanto por causa de outros corres que tenho feito, falta de net, material e ajuda de outras pessoas com textos e idéias pra ajudar a colocá-lo pra frente, mas o zine ainda está ativo, sempre que posso tiro copias e distribuo pra quem eu sei que vai ler e valorizar a idéia, já foram feitas 9 edições e com certeza outras virão, com bastante revolta e resistência, com textos libertários, poesias, informativos e tudo mais que merece ser expressado e vomitado.

Qual é a sua opinião sobre o atual momento do punk/hc goianiense em termos de bandas, shows, locais de shows, zines, público, etc?
Eu moro há um ano apenas aqui em Goiânia, mas pelo que eu pude ver, tem pessoas motivadas a fazer algo acontecer aqui e que estão fazendo alguma coisa, fora a galera das antigas, como o Segundo, Júlio, a Insetus, você também Natal que há muito tempo está nos corres de fazer os rocks e coloca bandas novas e com pouca repercussão pra tocar, há bandas e uma galera “nova” foda rolando, Gerações Perdidas, ExOxDx, Piratas do Cachimbo, Tarja Preta entre outras, que são bandas da cena atual e que estão se movimentando, gravando, organizando gigs, tocando em outras cidades e tal e isso é muito lindo e tenho  esperança que outras pessoas que ainda são somente expectadores nos rolês, se motivem a fazer algo também . Já local de show não muda muito né? Foda que quase sempre que tentam fazer algo fora do centro (Old e Capim Pub), algo errado acontece, como a maldita AMMA enchendo o saco por estar rolando um som firmeza, como rolou há pouco tempo no Bar Altas Horas no Recanto do Bosque e como já vi rolar no Julio’s Bar também. Enquanto o sertanejo universitário que só fala de putaria rola alto por todos os lugares da cidade e ninguém reclama de nada. Já a cena de Zines eu acho meio fraca ainda, mas estamos tentando mudar isso, tanto que na gig que fizemos o “Destrua o Poder não as Pessoas”, fizemos uma distribuição firmeza de materiais, com contribuições minhas, do Todd, do Paulinho baixista do Gerações Perdidas, com muitos materiais dos doidos, o Matheus levando umas cópias da segunda edição do zine do Gerações Perdidas, a galera do Tropical Youth de Brasília levando os seus zines com as letras da banda, conseguimos acumular bastante material pra fazer trocas e distribuir. O João Gabriel que levou livros libertários pra vender e umas poesias anarquistas e informativos autogestionários pra jogar na mão de quem estava presente. E isso ao meu ver mostra que tem pessoas dispostas e a fim de fazer algo massa que possa conscientizar a galera a fazer uma diferença positiva na cena e também no seu dia a dia em outros lugares, e que foi muito legal ver uma mesa cheia de zines e informativos de graça pra galera pegar, levar pra casa, ler e compartilhar idéias, ver que muita gente estava se interessando  pelas informações que estavam ali sendo distribuídas foi muito massa.

O que vocês estão escutando ultimamente?
Eu sempre escuto um monte de coisa, mas tenho pirado muito em Neo Crust, bandas como Fall of Efrafa, Tragedy, Ekkaia, Down to Agony, Robot Wars e outras, estou ouvindo muito Autoras do Fato, grupo de anarco rap daqui de Goiânia que conheci há pouco tempo que eu acho que nem estão mais na ativa, a demo do NxOxIxA (Nosso ódio irá atacar) banda de grindcore de um brother de São Paulo, que se pá num futuro próximo fará um 3way com o Livre? Junto com o Corre Que Jesus Voltou, acho que de novo o que eu tenho ouvido mais é isso, o resto é só mais antigueira , do grindcore, crust  e Power Violence mesmo, alguns nem são tão antigueiras assim também. O resto da banda eu nem sei, todos ouvimos muitas coisas diferentes, do gosto preferencial de cada um.
Victor – Fugazi, Black Flag, WCM, Baba de Sheeva, Gerações Perdidas, Possuído pelo cão, Coerência, Tirei Zero, Black Sabbath, Mutantes, Dorsal Atlântica, Lobotomia, DRI, Ratos de Porão, Test, Minor Threat.

Esta é uma pergunta que eu sempre gosto de fazer às bandas que eu entrevisto para o blog. Todos nós que somos envolvidos com bandas, zines, shows,enfim, qualquer atividade relacionada à cultura underground, enfrentamos doses cavalares de incompreensão e encheção de saco por parte de pais, namoradas/mulheres, parentes, etc. Como vocês lidam com isso?
Ué, eu já ouvi tanta encheção de saco, opressão, repressão e tudo mais na vida por causa disso, que aperfeiçoei a técnica do desprezo e do mandar se foder  hahahaha, sempre quando alguém vem falar merda pra mim eu me desligo e só vejo a boca dela mexendo e tudo vai entrando por um ouvido e saindo pelo outro, sou ótimo nisso, ainda mais eu que nasci num lar cristão, político e militar, quaisquer outras pessoas que vierem com opressão, encheção de saco, incompreensão e autoritarismo pra cima de mim, já acho até fácil não me preocupar e desprezar. Mas hoje em dia até que é mais sussa, esses tipos de coisa aconteciam na época que eu era mais novo e tal, hoje moro só e em outra cidade que minha família mora então nem sofro tanto mais com isso. Acho que o resto da banda é de boa com isso também, o Alysson também mora só, é independente e tal, o Urbano já é um rapazinho casado e um velho precoce heueheuhe, só o Victor mesmo que ainda mora com os pais, mas que são de “boa” com esses lances. Claro que contratempos acontecem, mas sabemos contorná-los, é uma questão de resistência.

E como fazem para conciliar as inevitáveis obrigações e compromissos de trampo, família, relacionamentos, com as atividades da banda?
Até que é de boa, por enquanto não temos muitas atividades, o Livre?, por ser um projeto, e o Urbano e o Victor se dedicarem mais ao ExOxDx, não ensaia muito.Eu no momento estou sem trampo, mas faço faculdade e alguns cursos e o Victor só trampa na parte da manhã e faz faculdade à noite, então somos os mais vagabundos da banda heuehuehe, o Urbano e o Alysson trabalham durante o dia, então costumamos ensaiar somente nos finais de semana, então dá para conciliar de boa tudo isso, pelo menos eu acho que dá.


Que bandas vocês destacam no atual cenário punk/hc daqui e de outras cidades/países?
Pra mim daqui de Goiânia, destaco o Gerações Perdidas, Death From Above, ExOxDx e o Ímpeto que acho muito foda, mas que quase não tem tocado, claro que tem outras que gosto muito também.  Já de outras cidades tem várias que gosto muito, destaque para o Social Chaos, crustcore de São Paulo que tive a oportunidade de ir no show no ano passado, que sempre tem lançado materiais sinistros e representam bem o Brasil na cena crust na gringa.  O Caim, uma banda nova muito boa de NeoCrust de Brasília e Águas lindas, saquei só duas músicas, mas já curti muito, o NxOxIxAx de São Paulo que eu já tinha dado idéia em uma das perguntas anteriores que tá fazendo um grindcore desgraçado, com direito a cover do ROT na demo que lançaram, o Dischaos Crust d-beat maniac fodido, também de São Paulo que tem lançado uns materiais doidera, Robot Wars do Nordeste que também já foi mencionado , que é formado por apenas dois caras que estão fazendo um Neocrust firmeza e por aí vai, Test, Subterror, Hutt, Subcut,  Facada, Defy, Dor de Ouvido, bandas que são muito das doidas e que estão fazendo e sempre fizeram muito pela cena Crust e Grindcore entre outras. De bandas gringas pra começar recomendo, Magrudergrind, Yacopase, WoRmrot, ACxDCx (Antichrist, Demon Core) e Lycanthrophy, Mindflair,Pig Destroyer (Nota do Editor: adoro essa banda!) pra quem tiver a fim de curtir sons rápidos, berrados e insanos.    


E os shows? Estão tocando bastante? Planos para tocar fora de Goiânia?
Fizemos 4 shows até agora, somos uma banda nova, até que está de boa, já tocamos fora uma vez e foi no nosso primeiro show, rolou em Caldas Novas, num rock organizado pelo Bartião, que foi muito divertido. E sim temos planos de tocar fora de Goiânia, assim que tivermos tempo, grana e oportunidade vamos querer embarcar nessa de sair tocando por aí. Falando em show, dia 09 de Setembro no Capim Pub, vai rolar uma gig FOOOODAAA, organizada pela Two Beers, DESTRUDO, que irá rolar o Livre?, Gerações Perdidas, o Wc Masculino que fará o primeiro show deles aqui em Goiânia depois da volta  à ativa, o Subterror de Brasília e o Mito da Caverna de São Paulo. Prometemos fazer um show insano pra quem estiver presente hehehe.

Acho que é só isso, espaço livre
Valeu Natal pela oportunidade e pelo espaço para expressar o que realmente é o Livre? E pode contar conosco sempre que precisar de qualquer coisa, a mensagem que eu deixo pra quem ler essa entrevista é: em vez de ficar criticando e reclamando que nada do seu gosto está acontecendo, que tudo é ruim e ninguém presta e blablablabla FAÇA VOCÊ MESMO A SUA CENA, FAÇA VOCÊ MESMO A SUA VIDA e PAU NO CU DE deus e de todas as instituições autoritárias e governamentais e mesmo que não consigamos fazer esse mundo um lugar melhor para todos, iremos fazer o máximo para que seja um lugar melhor para nós e para as pessoas que amamos. 


Link originalmente postado no blog Licor de Chorume http://licordechorume.blogspot.com, visite-os, um verdadeiro paraíso para adeptos de hc, grind e pancadarias em geral!









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