Uma página viva do underground nacional!
Formado em 1983 por Alex `Podrão` (vocal) e Bosco (guitarra), que já haviam tocado juntos na banda Derrame Cerebral, pela baixista Mila (gata! Alguns anos mais tarde seria uma das fundadoras do Volkana) e pelo baterista Paulo César `Cascão`, o Detrito Federal é da mesma geração musical do DF de onde surgiram bandas como Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude e afins, mas ao contrário delas realmente tocava Punk Rock!
Após a inevitável `via crucis` de ensaios passaram a se apresentar constantemente em Brasília e nas cidades do entorno, se destacando positivamente e chamando bastante atenção, e em 1985 foram convidados a participar da coletânea `Rumores` do selo Sebo do Disco, as outras bandas na coletânea eram Finis Africae, Elite Sofisticada e Escola do Escândalo, todas adeptas daquele `roquinho nacional` dos anos 80.
Era gritante o contraste das outras bandas com a sonoridade agressiva do Detrito Federal, que participou com as músicas `Fim de Semana` e `Desempregado`.
Foram lançadas apenas 1000 cópias dessa coletânea e ela se tornou um autêntico item de colecionador!
Apesar do bom momento pelo qual a banda passava Mila e Bosco resolvem sair, sendo substituídos por Will Pontes e Paulinho.
Nessa época a banda foi convidada pela toda poderosa Rede Globo a participar do programa `Mixto Quente`, um dos vários programas globais para a `juventude` que rolavam nos anos 80, tenho uma vaga lembrança dele....
Essa ida à Globo deu origem a um racha na banda, de um lado Podrão, fiel ao ideário punk, e do outro lado Cascão e o resto da banda, que haviam sentido o `gostinho` do mainstream e queriam entrar de cabeça no esquema `rock nacional` dos anos 80.
Podrão saiu da banda e montou o BSB-H, ao lado de Bosco, e Cascão assumiu os vocais (e a liderança) da banda.
Paulinho também saiu da banda, para seu lugar foi chamado Milton Medeiros, e para tocar batera no lugar de Cascão foi convidado Luciano Dobal. Will Pontes continuou na guitarra.
A saída de Podrão permitiu ao Detrito Federal mergulhar de vez na onda `new wave`, abandonando definitivamente a postura e o visual punk, querendo alcançar o mesmo sucesso comercial das conterrâneas Legião Urbana, Capital Inicial (arghhh!), e Plebe Rude (eca!).
Com a nova sonoridade a banda passa a atrair interesse das majors, e no começo de 1987 muda mais uma vez de formação com a dupla Cascão e Milton Medeiros à frente e os `novatos` Mauro Manzolli, Débora Darwich, e uma garota chamada Si Young, a popular Simone Death, que mais tarde fundaria o P.U.S e se tornaria Siyang, atingindo o `status` de celebridade ao participar de uma edição do `Casa dos Artistas` e posar nua para a Playboy.
Com esse time o Detrito Federal assina um contrato com a Polygram e entra em estúdio com o ex-titânico Charles Gavin para produzir o disco `Vítimas do Milagre`.
Lançado em 1987 o disco teve um sucesso mediano, chegando a vender 40.000 cópias, o que levou a banda a se apresentar por todo o Brasil e tocar em programas de TV como Xuxa, Perdidos na Noite (esse era bom!), Clube do Bolinha (!!!!) e outros do mesmo quilate.
Foi nessa época que ouvi o Detrito Federal pela primeira vez, por volta de 1988, em uma rádio em Brasília, gostei da banda e me lembro de gravar o vinil de um amigo, depois o comprei.
Estou pensando muito sobre rádio esses dias, estou gravando uns DVD´s com um monte de sons dos anos 80 para uns amigos e sempre me recordo do tanto que o rádio era legal até o começo dos anos 90, rolava de tudo, rock, reggae, rap, MPB, e não eram programas especiais não, esses estilos rolavam na programação normal!
Claro que haviam os programas especiais, mas a pluralidade musical imperava, a `parada musical` ainda não era uma ditadura de um ritmo só, isso durou até o sertanejo dominar tudo no início dos anos 90.
Ao contrário dos dias de hoje em que as rádios (ou gravadoras, ainda existe isso?) escolhem apenas um estilo e o tocam `ad nauseam`, geralmente sertanejo, emo, ou alguma variação de dance music.
Como viciado em rádio a solução é escutar AM, onde ainda rola uma certa democracia musical.
Voltando ao Detrito Federal, após esse ciclo de shows de divulgação de `Vítimas do Milagre`, Simone saiu da banda, e pouco tempo depois o Detrito Federal foi demitido pela Polygram por causa das vendas de `apenas` 40.000 cópias.
A banda havia se mudado para o Rio de Janeiro por causa dos shows e apresentações em programas de tv, e com a demissão da gravadora tiveram que voltar para Brasília, com a exceção de Milton, que permaneceu no Rio para estudar produção musical.
Depois disso uma infinidade de músicos passaram pela banda: Tom Capone, Ricardinho (Peter Perfeito), Pedro Hiena (Arte no Escuro), Balé (Escola do Escândalo) e Rômulo Jr.
Em meados dos anos 90 ganharam de Renato Russo a letra `Fábrica 2`, nunca gravada oficialmente.
Por volta de 1995 passam a contar novamente com uma formação estável, com Cascão, Débora, Paulo Delegado (!) no baixo, e Victor Babu.
Em 1997 tocam no Abril Pro Rock, em Recife, e empolgados com o bom show tentam gravar um novo disco.
O projeto não deu certo e se resumiu à música `Ninguém Ajuda Ninguém`, que entrou na coletânea `Cult 22`, organizada pelo ótimo programa homônimo da Rádio Cultura FM de Brasília.
Em 1998 tocaram duas vezes em Brasília, mas a fraca repercussão dos shows causou o fim definitivo da banda, o que levou Cascão a assumir de vez a carreira de advogado, e atuar como DJ nas horas vagas sob a alcunha de `PC Cascão`.
Em 2001 Bosco e Podrão decidem ressuscitar a banda, resgatando o punk rock da fase inicial.
Com uma nova formação a banda passou a tocar bastante no forte cenário Punk/HC do DF, se integrando sem dificuldades na nova cena, e sendo convidada para shows em outros estados.
O que acabou gerando uma parada surreal: em 2001 dois Detritos Federais se apresentaram no Abril Pro Rock, o de Bosco e Podrão, tocando músicas da fase punk e novas composições, e o de Cascão, com o nome PC Cascão & Desempregados, tocando as músicas da fase `new wave`.
As duas bandas tocaram `Desempregado`!
Esse episódio gerou uma confusão de proporções bíblicas, que levou Cascão a abandonar a música definitivamente.
Com Podrão e Bosco à frente o Detrito Federal prosseguiu ensaiando, compondo e se apresentando, e em 2002 gravaram o E.P `Guerra, Guerrilha, Revolução`, com 4 músicas novas e regravações dos `sucessos` `Desempregado`, `Se o Tempo Voltasse`, e `Fim de Semana`.
2005 trouxe o lançamento do disco `1983` pela tradicional Devil Discos, que como o próprio nome indica é um resgate da sonoridade punk do início da carreira da banda.
A banda está na ativa até hoje, com os incansáveis Podrão e Bosco, e André `Galego` na batera, e Bil no baixo.
Desde 2006 eu e um amigo (Segundo, dono da 2 Beers or not 2 Beers Records) estamos fazendo ao menos um show de punk/hc por mês aqui em GYN, geralmente em um local chamado Capim Pub, nessa fita já vieram várias e várias bandas do DF tocar aqui, e um belo dia eu estava em um show punk no DF quando o Bosco veio me perguntar por que eu não chamava eles para tocarem aqui!
Já pensou? Hehe, as voltas que o mundo dá!
Respondi para ele que não chamava porque achava que eles não viriam, por causa de cachê e tal, conversamos bastante e combinamos de fazer um show aqui, infelizmente o lance acabou não virando por `n` fatores, mas uma hora o esquema acontece.
O importante é que eu ganhei um amigo, te devo um show aqui Bosco, uma hora o `alinhamento dos planetas` dá certo e o Detrito Federal arrebenta em Goiânia mais uma vez!
Pesquisando para esse texto percebi claramente que a história do Detrito Federal dá um livro, um baita livro, com drama, passagens engraçadas e reviravoltas mirabolantes, fica aqui a sugestão para o Bosco e o Podrão.
Apesar de ter uma sonoridade `diferente`, meio leve para os padrões punk/hc, `Vítimas do Milagre` é um clássico, lembro que o disco foi muito bem recebido na época, lá em Brasília rolava aquele lance de nós gostarmos do som por que a banda era punk e era de lá, um bairrismo sadio.
E quem que tem mais de 30 anos e é envolvido com punk/hc e não viajou na capa do `Vítimas do Milagre`?
Lembro também de ler uma entrevista com Charles Gavin na época, na saudosa `Bizz`, em que ele explicava que a sonoridade do álbum ficou leve por causa de um erro no processo de corte da matriz do disco, que é a transferência do som da matriz para a cópia de onde se originarão os vinis que irão para as lojas, segundo ele a sonoridade da matriz é bem diferente do vinil que foi comercializado.
Ainda nessa entrevista ele dizia que teve uma reunião com a banda e com a diretoria da Polygram, mas não era possível se fazer mais nada em relação ao erro no corte, pois era inviável economicamente se fazer uma nova prensagem com o erro corrigido, como o disco começou a ser tocado nas rádios o assunto ficou por isso mesmo........
Como eu disse no começo do texto, considero o Detrito Federal uma autêntica página viva do underground nacional, os caras passaram por um monte de provações e estão aí firmes até hoje, um exemplo para quem tem ou pensa em montar banda!
`Se o seu pai pudesse escolher você acha que o filho seria você?` !!!!!!!!!!!!!!!
http://www.4shared.com/file/neM-fQfC/Detrito_Federal_-_Vtimas_do_Mi.html
http://www.4shared.com/file/raLJHEnJ/Detrito_Federal_-_1983.html
Links dos 2 discos originalmente postados no blog parceiro Licor De Chorume
http://licordechorume.blogspot.com
Discografia – Detrito Federal
§ Vítimas do Milagre (LP, 1987, PolyGram)
§ Guerra, Guerrilha, Revolução (7" EP, 2002)
§ 1983 (CD, 2005, Devil Discos)
§
Coletâneas
§ Rumores (LP, 1985, Sebo do Disco)
§ Cult 22 (CD, 1997)